quarta-feira, 30 de julho de 2008

Outono de 1976


Vendo você partir sem nada poder fazer, me sinto inválido mas sei que voltará, sim, um dia voltará seja lá como for, seja lá em quais condições, você voltará, sempre voltará porque metade de você eu carrego comigo e você não conseguirá encontrar nada que possa te fazer sentir completa nem mesmo toda liberdade do mundo.
Vá com os anjos meu amor, vá em paz...

sábado, 26 de julho de 2008

filosofia de muro

"O ódio é a ausência do amor e vice-versa"

sexta-feira, 25 de julho de 2008

sobre essa dor

Vai passar...

terça-feira, 22 de julho de 2008

Pro inferno

Aonde vai menino?
Com essa calça larga, boné vermelho atolado na cabeça e com um olhar de quem vai desgraçar o mundo
Pra onde vai menino?
Mochila nas costas, tênis rasgado e respiração ofegante
Vai matar alguém?
Vai se matar?
Quem sabe?
Menino tem ódio pintado na cara
Menino tem raiva de mim e de você
Menino Tem raiva do mundo
Pra que entrou na loja menino?
Tá com fome?
Vai roubar?
Esse revólver não é seu
Esse revólver não é você
Esse revolver é o seu santo protetor
ele te da dinheiro
ele te da comida
Ele te deixa forte
Vai lá
Quebra tudo
atire sem dó, sem medo e sem culpa
Pois você é filho da gente
Criado pela gente
E a responsabilidade é toda nossa

sábado, 12 de julho de 2008

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Filhos de julho

O menino corre, corre, corre
Descalço e com as havaianas presas aos cotovelos cinzas e pontiagudos
No rosto um olhar apreensivo e na boca todos os palavrões do mundo
Ele tem amigos que também sabem correr
Amigos que também sabem falar palavrão
E eles correm entre os carros e por ruas de paralelepípedos azuís e árvores secas,varandas e senhoras católicas obscecadas pela vida alheia.
Em tardes de julho, esses meninos papaléguas de boca suja se multiplicam, se materializam em linha nº10 100% algodão, em caco de vidro moído, em bola de capotão, revista de mulher pelada entre outros critérios de valor.
Menino louco corre e se esconde
Cansado e com o coração batento a mil
As narinas dilatadas e o suor escorrendo pela testa suja de carvão
O perigo está por perto e ele não pode ser pego
ele observa o movimento e prefere continuar escondido afinal, sair dali seria muito arriscado e ele sabe que se for pego, as conseqüências serão terríveis
Incrivelmente, mesmo estando alí apertado e com o cu na mão, ele nem se recorda que em casa tem uma irmã secretária que todos os dias chega em casa tarde da noite sempre de carona em carros diferentes, uma mãe que adora usar um lenço na cabeça e tem mania de limpeza, e um pai operário de porte físico invejável de olhos avermelhados que esconde a tristeza chorando no banheiro
Mas nesse momento tudo isso não existe para aquele menino de canelas finas e russas que sai do esconderijo feito um gato e corre feito um mensageiro que leva a notícia que poderá mudar os rumos da história
Mas ele corre pra se defender,
Pra tirar o seu pescoço da degola
pra se manter com fama de ser o mais ágil, o mais foda de toda a turma
Pra chegar até aquele poste e gritar bem alto:
1,2,3 salve todos!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Presságio de um passado comum

-Cara, tô indo nessa
-Que isso?
senta aí meu irmão, vamos conversar um pouco mais
O café já está quase pronto
Vamos relembrar os bons momentos
falar um pouco de palavrão
E esquecer que temos mulher, filhos e responsabilidades
-Tá certo, vamos deixar tudo isso pra amanhã
isso é coisa pra segunda feira
vc se lebra do Carlinhos?
Pois é, conheceu uma coroa e se mandou pra Portugual
Jura que não virou gigolô
-E a patricía?
-aquela gostosa irmã da fabiana?
POw! fodia muito
-Sim, essa mesmo
-Tá maus, dizem que tá com a danada
-Jura?
-Pois é
Mas o povo fala demais
-E como fala
Além de falar, inventa
Vai saber...
-E seu time hein?
-Nem me fale
-Não ganha de ninguém
-Ha! mas nem ligo mais
-Quem diria!
Vivia brigando no bar do juca por causa de futebol..
-Ha meu amigo, a gente fica ativo, nem que seja na marra
Coisas do tempo
-Tem notícia do Xande?
-A ultima vez que eu estive com ele, estava parecendo um cafetão
Usava camisa social abotoada pelas metade, cordão de ouro e tudo
-Caraí! é mesmo?
-Tô te falando..
-Porra!
Pra quem quase morreu de amor hein?
-É mesmo. A Dany quase o matou
Começou bebendo por amor,
com o tempo se esqueceu da Dany e se apaixonou pelo álcool
E aquele pois é lá na garagem?
-Você viu só? arrumadinho né?
-78?
-Sim sim
-Tá nos trinques
-Bão de motor e de lataria também
-Legal
-Eu vendi aquele passat e depois me encrenquei com um voyage
-Encrencou porque?
-Porra aquilo era foda
Bebia mas do que o dono
-Vixe!
-Assim é foda. duas famílias não dá né cara?
-É complicado
-E esse videogame aí?
-É do Rafael
Passa horas jogando isso aí
-Aposto que você também fica
-Que nada, não consigo jogar essas coisas modernas
Parei no Nintendo
-Meu faz tempo hein?
Você se lembra quando a gente jogava lá na casa do Loló?
-Porra nem me lembre
Era muito louco
-Era tanta gente que se perdesse, só chegaria a sua vez depois de duas horas
-Era mesmo
-O paulinho gostava era daquele de corrida né?
Como se chamava mesmo?
-Top Gear
-Putz! esse mesmo
-Era muito bom
-Aquele monte de nego barbado misturado com a mulecada
-Era muito bom
Sem contar a fumaçada na sala né?
Cigarrada do caraí
-Exemplo zero
-Mas o lance deles era só o game mesmo Benza Deus
-A mulecada era firmeza mesmo
Hoje tá aí, cada nego maior do que a gente
-Pois é cara,
-É meu irmão, a gente tá ficando velho
E você ainda me inventa de usar esse bigodinho aí
-Qualé cara?
Só uso porque a mulher disse que fico bem assim
Disse que me dá um ar de homem sério
-então lá no barraco é a mulher que manda?
-Bom, não é bem assim né meu chapa
Sabe como é, tem que ficar bonito pra patroa
-Pode crer.
-Cara o papo tá bom mas tenho que ir nessa
Ainda tenho que passar lá na caixa econômica
Aquilo lá deve estar um inferno
-Caramba, fim de mês é complicado mesmo
-Então fica assim cara, agora é a sua vez de ir lá em casa
-Vou sim véi
-leva a patroa e os muleques
-Combinado
-Até mais, vamos ficar aguardando por vocês
-Tranquilo então
-Até mais
-Até.

E nesse dia, eles desenterraram um monte de gente que o tempo fez questão de encobrir

sábado, 5 de julho de 2008

Muito drama e pouco açucar

Três da manhã
Na tv passa propaganda de produtos que jamais comprarei
O silêncio da rua me incomoda
A lentidão do relógio embala o meu tédio
Não tenho ninguém
A cabeça a mil
O coração disparado
livro algum me trás calmaria
Merda alguma me trás conforto
Estou frente a frente com o vazio
Não sinto vontade de nada
Mas, sinto falta de tudo
Reclamação besta
Apenas perdi o sono
Só isso

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Esperança (En tu casa voy a estar por mucho tiempo)

A vida nem sempre é vivida
O sangue nem sempre é o da gente
Mas a dor, por nós, é sempre sentida

Tantos anos desperdiçados
Tantos ideais enclausurados em uma cabana
A selva é um detalhe
os animais andam armados
brincando de revolucionar
Che Guevara chora
ao ver seu nome sendo usado em vão
Muitas famílias choram por falta de notícia
choram de saudade, de dor e agonia
E eles?
Amam se armar
E odeiam o amor
A nossa bela e sofrida américa do Sul
Senpre explorada
sempre castigada
sempre vista apenas como matéria prima
e seus habitantes,
mão de obra barata
sofre com mais essa ferida
Mulher frágil de espirito forte
seis anos de morte não foram capazes de apagar os seus ideais, seus sonhos
A sua liberdade nos fez recordar desse sentimento
Essa palavra que há anos escorre em nossas lágrimas
Em nossos pulsos
Ainda podemos sonhar.