segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ao meio


Acreditando em mentiras
Transformando em meias verdades
Buscando alívio no que não existe
Realizando o desejo de quem jamais esteve alí
Como é difícil aceitar
quando o que está em jogo é uma imensa perda de tempo
Virar as costas e fechar os olhos,
buscar na escuridão um novo caminho
Uma pena não ser tão simples assim
Ficaram as marcas
e nas paredes sujas escreveram o meu diário
e quanto mais eu tento apagar,
surgem novas palavras,
novas passagens,
descrições de momentos que nem sei ao certo se vivi
E tudo fica fora de mim
perco o sentido
então, procuro ajuda
e volto a transformar as mentiras em meias verdades
Talvez esse seja o caminho
viver em mentiras
em meias mentiras
em meias verdades
Talvez essa seja a escolha incerta.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Em uma cidade muito longe, muito longe daqui...

Uma praça
Uma senhora louca semi nua
Cachorros,
mendigos
vitrines
Sonhos e consumo
No fundo,
todo mundo quer comprar

Viados aliciando menores
Não, não é denuncia
No fundo a mulecada adora
um pastel,
uma coca,
o primeiro gozo
Se não morrer,
terá história pra contar

Meninas esqueléticas
de pele manchada
lábios queimados
velhos tarados
droga barata

Lei que não pune
Lei que solta
Policia que corrompe
que bate na mulecada
que contrata as meninas esqueléticas
para animar orgias em casas afastadas
Não,
isso também não é uma denúncia
No fundo todo mundo quer se envolver com o poder

Hospital lotado
Funcionários amargos
mal pagos
Doentes mal tradados
Se tem vaga não tem médico
se tem médico
não tem vaga
"Acostume-se"
Essa é a nossa regra

E por aí vai...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A margem

Mesmo que não queira mais a minha atenção
Mesmo que meus olhos não te enxergue mais
E mesmo que meus passos deixem de segui-la
E que minha boca deixe de cantar
Canções tão tímidas
Que rasgam a alma
Não deixarei de desejar a sua alegria
Quando as tuas cartas me socam o coração
Letra por letra engulo o teu punhal
Um telefonema,
Um bom dia
E nada mais
Se transformam em livros, catálagos de emoções
Palavras vazias
Não preenchem a alma
E essa sinfonia de amor
Mistura tudo o que eu sinto

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Surto com letras grandes


Receite um remédio
Me cure do tédio
Assombre minha casa
Arranhe meus discos
Me ache esquisito
Me arranque um sorriso
Critique minhas roupas
Me vista de louca
Me fale bobagens
Me estupre os ouvidos
Me mostre o perigo
Me empurre da escada
Vamos dançar na rua
Me empreste o teu carro
Me leve pra lua
Me fale de amor
Me cuspa na cara
Me inveje e ignore
O meu ponto de vista
Se toque fascista
Não venha com ouro
Não conte piadas
Não fale dos outros
Acorde pra vida

quarta-feira, 2 de junho de 2010

E agora a tragédia


Meu repertório de bobagens
de vacilos
de asneiras
está chegando ao fim
Me cansei de servir de palhaço
pra esse circo
que não tem cor
nem alegria
só tem platéia
de gente chata
de gente feia
sem coração
Enquanto vou guardando as minhas tralhas
vou recordando
velhos olhares
jovens olhares
que hoje estão velhos
estão tão secos
estão mais sérios
maldita vida
que só impõe
e nada mais importa nada
Já me cansei de ser palhaço
já me fartei de tanto esforço
por que a tendência é piorar
A demagogia venceu a arte
venceu os lares
venceu as praças
botou no bolso
e se mandou
e nada mais importa nada
É pé na bunda
É baixaria
É picuinha
É convardia
É maldição
Podem me chamar de fraco
Podem me chamar de franco
mas a verdade é a verdade
não quero ser o tal
É tanta palhaçada nesse circo tão sem graça
que a carreira desse velho palhaço desgraçado
está chegando ao final.