terça-feira, 20 de julho de 2010

Eloquência



Quase acreditei que era por brincadeira
Fazer o mal sem possuir a maldade
A arte de enganar o mais esperto dos iludidos
e enxergar arte na ilusão da esperteza
Sem inspiração
Um sorriso mal pintado
Tinta, pincel e tela da pior qualidade
Dessa forma,
não enganarás ninguém!
Nem mesmo o mais embaçado dos espelhos.

Crise



Fartura de sensibilidade
Entre um verso e outro
buscando por pra fora aquilo que sinto,
aquilo que vivo,
o que sonho
e até mesmo,
aquilo que invento
Deixo expostos todos os meus desejos
mas acredite,
faço tudo isso por não suportar sozinho
essa melancolia, essas dores,
essas alegrias,
esses fatos e ilusões que me empurram para a beira
que me convidam para a festa
que me interroga
faz de mim um menino
um velho, um tolo
um bobo, um fraco
que em crises bipolares se esconde do mundo
e sente tudo calado
prestes a entregar os pontos.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Zé calado



José calado caminha com passos largos,
roupa amarrotada e embrulho debaixo do braço.
Me indaga aquele olhar juvenil enfeitando um rosto farto de rugas e pêlos
me passa um ar de satisfação.
Aí tem...
Aí tem...
Meu Deus! será que...
Não, não faz o tipo dele
tranquilo demais pra correr tamanho risco
Preciso descobrir!
maldita curiosidade
Obsessão por aquilo que me atiça
O porque dos passos largos?
Porque aquele meio sorriso?
Porque tanta juventude no olhar?
Um homem sempre sério
castigado pela vida
pelos dias
Melhor eu me conter
e deixar que ele curta aquele momento solitário de secreta alegria
Não devo atrapalhar
Me corroer sim,
atrapalhar não
Pobre Zé calado
Entrou em casa olhando como se estive atravessando uma rua
olhou para um lado
olhou para o outro
Se estrovou com o grande número de chaves
Pobre zé,
Com muito custo pegou a chave certa
O que será que tem naquele embrulho?
Essa pergunta volta a atacar enquanto ele fecha a porta na cara da minha curiosidade.


Meses depois descobri que aquilo que Zé calado carregava embrulhado em papel de pão era apenas um radio gravador
Zé calado fazia jus ao teu nome e só se abria a si mesmo.
E a noite enquanto o mundo inteiro dormia, Zé calado ensaiva extensos diálogos de um homem só.
Pobre Zé
Pobre Zé